segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Find enough

Nunca me senti assim anestesiada. Em certos momentos a emoção me rodeia... até tateia... o olho pesa... penso comigo em silêncio "logo não tarda a rolar uma primeira lágrima", mas alguém me chama, o telefone toca ou outro pensamento me toma e passa.
Da próxima vez vou morder os lábios, assim... como faço quando saio do dentista anestesiada... dormente... se doer... é porque o entorpe não foi farmacológico... foi além.
Ando cansada de brigas até para buscar um ouvido... acho que ando fadigada até pra pedir colo... ou talvez discutir a relação... e assim... as coisas vão caminhando.
Sempre levei as coisas em banho-maria... até me irritar pelas tampas... aí minha brabeza vem a tona... fica leonina... mas até isso percebo que vem diminuindo... isso me fez lembrar de uma texto de Elisa Lucinda que diz assim "...Há dores que sinceramente eu não resolvo, sinceramente sucumbo; Há nós que não dissolvo e me torno moribundo de doer daquele corte do haver sangramento e forte que vem no mesmo malote das coisas queridas. Vem dentro dos amores dentro das perdas de coisas antes possuídas dentro das alegrias havidas..."; Será  o silêncio da coisa irrespondida?



Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.  

Ass. Estelinha

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Três

Somos mulheres. Somos pessoas. Somos seres humanos. Não sabemos definir o que somos, ou quem somos. Talvez fosse melhor inverter tudo. Somos mulheres e ponto. Mas só ponto. Daqui muito vai se escrever ainda, porque entre nossas breves e profundas existências, há muito que toda a vã filosofia desacreditaria. Sermos mulheres é o que nos trouxe à Liga. Dividir risadas, sonhos, dores, lágrimas e frustrações é o que nos leva a escrever esses textos. Que a nossa escrita encontre destino, e caso não o encontre, que possa nos tornar mais leves. Mulheres a beira de muitas lágrimas e risos, é isso o que somos.

Ass. Penélope

A gata na janela

"Ela"
Cheguei em casa... tarde... dia cansativo... final de semestre... provas. Fui à cozinha e lá estava ela... uma gata... me olhando da janela. Não é todo dia que ela está lá... ela vem quando quer... mostra interesse... da mesma forma... antes mantinha a distância, me fitava de longe. Quando quer chamar minha atenção...  caminha de um lado ao outro ou arranha o vidro... tento ignorá-la... mas não consigo... abro o vidro... estendo a mão e ela vem... ronronando... com um olhar intenso... então eu pensei "...eu não sou sua dona... por quê vens a minha janela?"

Felina... sagaz... misteriosa... depois que ela se foi, logo me veio você na cabeça... analogia na certa...  não sei onde você mora, não sei o que você quer, surgiu do nada... também não é meu... mas mexe comigo...
 

A questão é que eu ainda não sabia como agir, tentava pegar a gata no colo... bichinha arrisca... mantinha-se na janela, onde inteligentemente... controlava...   

Passei alguns dias só, ela sumiu. Tudo resolvido, pois já era de se esperar... é da natureza dos gatos... e hoje... ao olhar a janela vazia... Clarice soprou aos meus ouvidos:


"...Suponho que me entender não é uma questão de inteligência 
e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca..." 
( Clarice Lispector)
                                                                                           
                                                                                           ass. Estelinha